domingo, 31 de agosto de 2008

[22] há coisas fantásticas, não há?


Cliquem na imagem, vejam o vídeo e digam lá se não dá um jeitaço?
3 semanas? Não gostavam de ter? Então podem encomendar.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

castanho chocolate, mas amargo




Tenho dois medos racionais, ou melhor tinha, porque um deles já o venci. O outro não digo. Nem aqui, nem em lado nenhum. Só a mim diz respeito.

Não converso de intimidades com quase ninguém a não ser com duas ou três pessoas no máximo, o que para conversas íntimas já é uma multidão. Aqui então, muito menos. Não tem somente a ver com a delicadeza de alguns temas, mas sim com a leviandade, banalidade e boçalidade, anexadas a uma histeria colectiva com que se opina, arrota e gargalha sobre o privado, o secreto, o íntimo, o ‘só nosso’.

E ultimamente tenho presenciado mais isso em pessoas do meu próprio sexo.


Tudo o que é assunto, que no meu entender deveria ser tratado em privado, se expõe com deboche, em vitrinas instantâneas e improvisadas, onde não existe sequer um vidro a proteger do pó da rua, sem alarme contra intrusos e a preços tão baixos, que nem para saldos serve. A exposição íntima e pessoal é tão solicitamente rastejante, que as centopeias e as larvas, na incapacidade de competir com tamanha inferioridade, entram em depressão.


É como confundir camaradagem com amizade, libertinagem com ousadia, domicílio com lar, sexo com deboche, franqueza com cuspir na cara. Enoja-me a verborreia. E como auto-estima, confiança e solidez, são características que conquistei à minha custa e no meu caminho, dispenso de perguntar ao povo e à assistência como se rasga o papel, como se lambe ou o que fazer com os pauzinhos dos gelados.


Como feminista… Bom, faço aqui uma pausa para esclarecer as mentes mais distraídas. Feminista não é ser lésbica, prescindir de usar soutien, ter cabelo curto, vestir-se à cantora Dina, ser ressabiada com homens, ir à festa do Avante, não fazer depilação, ter bigode como a Odete Santos e escrever poesia erótica. Ser feminista não diz respeito só à mulher, mas a todo o ser humano, porque se trata de uma posição social que defende direitos humanos básicos, neste caso os direitos da mulher. Discriminação laboral, social, salarial, maus-tratos físicos e psicológicos, exploração sexual e tráfego, direito à educação, à religião, ao divórcio e à liberdade sexual e por ai afora


Então voltando ao tema do post…

Dizia eu, que como feminista e também como mulher muito feminina que sou, não me identifico minimamente com o rumo que muitas mulheres deram à sua emancipação. Adoptam uma linguagem de carroceiras, utilizam natural, fácil e obviamente, as curvas perfeitas e até os disformes pneus Goodyear do seu corpo e gerem com muito pouca inteligência, a nudez, o erotismo e as conversas sobre sexo. Servem-se a si próprias numa bandeja de pirex da loja do chinês, sem obterem o menor proveito em benefício próprio, nem sequer um pagamento em notas amarrotadas, como a mais honesta das prostitutas. Caem facilmente na ilusão que com este tipo de atitude e com uma reles conversa brejeira prolífera de laivos de intimidade, despertam desejos, alcançam estatuto e poder, e pior, caem na fantasia de que espevitam interesses. Pobres de espírito. Se eu fosse gajo, esmorecia e virava eunuco com medo.


É de uma falta de inteligência enorme, pensar-se que a evolução e o respeito por nós mulheres, é incompatível com a nossa feminilidade e com o uso correcto do nosso cérebro. Felizmente, podemos falar de todos os assuntos sem barreiras, mas penso haver limites e uma réstia de bom senso de se espalhar aos quatro ventos, de dar shows e palestras gratuitas, daquilo que devia pertencer, a meu ver, ao foro íntimo e privado. Preservado. Temos a faca e o queijo na mão para exigirmos respeito, igualdade nas mais diversas áreas e as mesmas oportunidades na sociedade. Tolas. Ao invés de filtrarem do homem aquilo que ele tem de bom, as suas muitas qualidades, preferem clonar e copiar os seus piores defeitos. E muitas fazem-no em consciência. Burras.

Minhas queridas, o cérebro não é um músculo, mas também precisa de ser exercitado. Não utilizem só a vagina e o parlapié de rua. E por favor, não circulem pelo passeio, no escritório, nos bares, na casa dos amigos, nas festas, na net, unicamente na posição horizontal, é que demoramos tantos séculos para nos pormos em pé!


É com enorme aversão que constato esta postura escancarada em mulheres iguais a mim e que o assumo como uma realidade actual. É com muita apreensão que chego à conclusão de que, se a minha avó enfrentou uma sociedade fechada sobre si mesma, puritana e moralista, para não se subjugar à vontade do pai dela e mais tarde da do marido, se a minha mãe o tornou a fazer nos anos antes do 25 de Abril, impondo-se como ser humano e rejeitando o papel de mero objecto de adorno e de utilização sexual, e se até eu, de uma certa forma também me afirmei pelo meu valor, numa sociedade marcadamente machista, as nossas filhas terão porventura um trabalho muito mais árduo e penoso, para mostrar que por cima de um corpo sensual e bronzeado à vista de todos, têm uma vida privada e assuntos que só a elas dizem respeito, que não são para imprimir no curriculum e que ainda possuem um cérebro que funciona.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

cor-de-rosa, mas pouco

foto de olivimages

Sempre que desperto de manhã, não consigo comer logo. Circulo cinco minutos pela casa, com cara de esponja e só depois começo a pensar. Falo pouco e o pequeno-almoço é sempre igual. Quando me começo a arranjar, preciso de abrir a janela do quarto para ver de que cor é a luz do dia e ela me dizer o que devo vestir. Antes de sair para a rua, verifico sempre se tenho tudo na mala e arrumado nas bolsas e divisões respectivas. Não, a minha mala não serve de cliché para a típica carteira de mulher. Está mais organizada, ordenada e arejada que uma mesa de cirurgia. Sempre que atravesso a entrada do prédio nunca olho para o enorme espelho porque já o fiz em casa, mesmo antes de sair.

Quando chego à rua, coloco imediatamente os óculos escuros, Verão ou Inverno.

Quando me sento a este computador, nunca tenho a cadeira direita, está intencionalmente desviada para o lado direito porque é para lá que as pernas fogem. Tenho uma caneta ao lado do teclado e quase sempre é preta. Quando me interrompem o trabalho com telefonemas a perguntar se tenho internet ou tv cabo, respondo que os senhores estão no estrangeiro ou que o meu pai não me deixa dar informações de carácter particular a estranhos e do outro lado desligam-me o telefone na cara. Quando estou irritada, dá-me para fazer tarefas domésticas de maior esforço, porque me ajuda a descarregar as energias e as neuras. Quando estou contente, fico sempre mais calada e olho à minha volta com mais cuidado, como se precisasse de reparar em alguma coisa nova, que sempre esteve por ali, mas a que eu nunca tinha dado importância. Algo que devia ter merecido outra atenção.

A minha combinação perfeita de cores, é verde-lima com cinzento-antracite, também não me importo do preto com o beije. Tenho dias que sou cor-de-rosa. Outros, cor de mostarda. Da escura.

Quando choro a ver um filme, falo sozinha.

Quando não gosto de uma coisa ou de alguém, vê-se nos meus olhos. Ficam parados. Quando os olhos gostam, riem-se.

Sou apressada, rápida, bem-humorada, impaciente e refilo bastante por coisas parvas. De manhã, à noite.

A ler, pode tudo ruir à minha volta, que não se passa nada. Quando compro um livro, assino Patti e escrevo a data, na página imediatamente antes do início da história. Ligo a televisão sempre nos canais da Fox, raramente vejo um telejornal e gosto de desfrutar dos filmes deitada no sofá. Quando falo ao telefone com amigas, mesmo na altura em que aqui por casa é hora de ponta, nada fica em stand by ou mal feito, prendo o telefone entre o queixo e o ombro e circulo por todo o lado como se nada fosse. A(s) conversa(s) seguem o ritmo normal, assim como a vida.

Passeio sozinha e faço companhia a mim própria. E gosto. Porque tenho livros e música. E tenho-me a mim.

Em chegando o sono, luto ainda uns minutos contra ele, mas adianta-me de pouco. Vence-me sempre. Tenho sempre pijamas bonitos e engomados que me acalmam a chegada da madrugada, com a qual nunca simpatizei. Detesto dormir mal vestida ou esfrangalhada, seja lá o que isso for. A noite bule-me com os nervos. Vou ao quarto da filha apertá-la muito e dar-lhe trinta beijinhos. Passo pela casa-de-banho e olho para o espelho, talvez para me dizer adeus e reparar que o tempo passa. Deito-me sempre a ler e no fim guardo o livro ao lado da almofada. Bem perto de mim.

Só quem me vê continuamente repetir tudo isto, estes hábitos diariamente e da mesma maneira, é que me conhece muito bem e a fundo.

Apesar de nunca ter pensado que conhece tudo isto de mim, que eu afinal sou assim, porque sabe que detesto rotinas.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

meu querido mês de Agosto I

fotos minhas e clicar para ampliar



Acabadinhos de pousar as malas no hotel, marcado com dois meses e meio de antecedência e já só havia dois quartos, ouve-se um barulho contínuo e histérico de buzinas, sirenes, motas e carros. Olha, já ouve um acidente, digo eu. Corremos para a varanda e damos conta que chegámos a uma cidade de província, onde certas coisas se vivem mais intensamente. Era a Volta. A Etapa Rainha. Em pleno mês de Agosto. E o povo na rua a aplaudir os heróis, que desciam a ponte Eiffel em carreirinha.

Iniciámos a nossa Romaria. As ruas da cidade estão todas enfeitadas, como o meu Chiado no Natal. Mas para melhor. As ruas e não só. As montras, as janelas e as casas, as varandas, os candeeiros, os jardins, os empregados dos cafés.



E os minhotos também. É absolutamente normal que assim se vistam nesta altura das festas. Mas eu não sabia, não fazia mesmo, a mais pequena ideia. Ignorante. Claro está, fiquei maravilhada com este orgulho minhoto e andei atrás deles tipo sombra. E não são, nem um, nem dois, são muitos e de todas as classes sociais. Famílias inteiras. Digam lá se não é bestial?



Com o programa da Romaria na mão, guardado como um tesouro, lá fomos nós, entre ruas movimentadas para a Festa. Oh menina, olhe que isto é um povo que o Deus te livre! Não abales da beira da mãezinha, que te perdes, disse ela à Beatriz.

Por todo o lado se ouve os ranchos e as vozes esganiçadas e estridentes das suas cantadeiras. A Beatriz acha muita piada aquele timbre agudo. A música é uma constante, assim como os tradicionais vendedores de rua, os pregões, a gastronomia, o verde vinho e a broa. Oh meu Deus, a broa que eu comi… e a que trouxe comigo?


Nem vos conto. Tenho o congelador entupido.

No dia anterior foi o dia da Procissão do Mar e do Rio, onde os engalanados barcos das gentes, partem para o mar, levando a sua padroeira, a Nossa Senhora da Agonia. As ruas e os passeios são enfeitados pelas pessoas na madrugada anterior, onde ninguém dorme, de sal colorido e flores, numa competição saudável entre si pela rua mais bonita.


fotos de tapetes da Fátima

Na manhã de sexta, estávamos a postos nas bancadas, alinhadas pelos passeios, à espera do primeiro cortejo: O Desfile da Mordomia.

Passam os cabeçudos e os gigantones sempre aos saltos e a girar, dançando ao som dos Zés Pereira e dos seus espectaculares bombos, dos grupos de gaiteiros e concertinas. Um barulho infernal, mas sintonizado por incrível que pareça.


Atrás vêm as mordomas. A música já lá vai, elas desfilam lentamente, faz-se silêncio à sua passagem que só é interrompido pelos nossos aplausos. Parece a cena de um filme. São imensas. Lindas. Com trajes magníficos das várias freguesias do concelho de Viana, onde não falham os pormenores. São elas as rainhas da Festa, raparigas solteiras que fazem os seus primeiros ex-votos de amor na Romaria da Sra. da Agonia. Sendo assim oficialmente apresentadas à cidade e indo oferecer os seus cumprimentos ao Governo Civil, à Câmara e ao Bispo. Tradições muito antigas. Eu gosto.



Não é à toa que se diz, que as mulheres do Minho são as mais bonitas do país. Alguma coisa elas têm. Ou são as cores dos trajes, o brilho do ouro, o ar nobre, o orgulho com que desfilam, a segurança da postura. Não sei. Mas são magníficas!


Foi esta, uma das minhas experiências preferidas de todos estes dias.

Depois do Desfile da Mordomia, segue a festa por toda as ruas, coretos, praças e jardins, até à hora da procissão solene. É como se o povo, pecasse à grande com o profano, para depois ir pedir perdão, redimir-se das culpas e pagar promessas com o sagrado.



Fui assistir por curiosidade. A última vez que estive numa procissão, ia pela mão da minha avó e devia ter uns sete ou oito anos. Só me lembrava dos anjinhos e dos homens que carregavam com o andor. A tradição ainda é o que era. A devoção destas pessoas é imensa e constrange-me, tomam tudo aquilo por uma realidade incontestável. Observei mais o que elas diziam, como reagiam e o que faziam à passagem dos diversos quadros bíblicos, do que propriamente à dita. Há ainda em tudo isto uma mentalidade muito antiga, muito tradicional, religiosa e muito distante daquilo que se vive nas grandes cidades. Mas isso é outro post.

A noite acabou em beleza. Novamente nos sentámos nas bancadas, mas desta vez na avenida principal, onde a animação foi total e a iluminação a condizer.

É o caos pela rua abaixo. Caos organizado, diga-se. São as bandas filarmónicas, os ranchos, os grupos de concertinas e de gaitas de foles, as castanholas a ‘pipocar’, o público a cantar em uníssono e a bater palmas ritmadas e os espectaculares Zés Pereiras. Estes homens, rapazes e até crianças, são excepcionais, incansáveis, fortes, talentosíssimos, poderosos. E surdos, aposto. Só pode.

Eles pouco descanso devem ter nestes dias da Romaria. O público desafia-os e atiça-os constantemente e eles prontamente respondem com um show de força e barulho, que não consigo descrever. É daquelas cenas que é preciso mesmo presenciar. Fiquei rendida.



Noutro post, sigo com o que falta da Romaria, é que isto de tratar e escolher as fotos ideais e agrupá-las, dá uma enorme trabalheira e eu tirei quase 900.


madrugar

fotos minhas


Às oito da manhã, eu era a segunda pessoa da Praia D. Ana. Bom dia, cumprimentou-me a velhinha que já lá andava pela areia a apanhar aquilo que a maré-cheia nos trás, todos os dias aquela praia.

Eu fui lá tão cedo, para fazer o mesmo que ela. Quem chega primeiro, escolhe o melhor.

A D. Ana é uma praia pequena, mas muito especial. Inexplicavelmente é a única destas praias todas que tem uma areia tão grossa, que se solta logo na primeira sacudidela. Está rodeada de uma arriba rochosa e imponente, que parece que nos protege como se de uma praia privativa se tratasse. Infelizmente, com a erosão e o relaxe humano, corre o risco de derrocada.

Nascem dentro da água, sempre muito transparente, outros grandes rochedos que são poiso de gaivotas, corvos marinhos, garças e se ainda houver espaço, também de mexilhões, lapas e caranguejos pretos e brilhantes.

Quando éramos mais novos, nadávamos até lá, arranhando joelhos e pernas, para subir até ao topo e mergulhar naquela água, sempre verde.


Na areia, a montra de brindes que o mar nos oferece, está espalhada pela praia de uma forma surpreendente e sempre igual todos os dias. É assim todos os anos e não faço ideia do porquê.

As pedras, os búzios, as conchas e os limos estão todos separados por zonas, como se fossem secções bem compartimentadas e arrumadas em locais próprios por empregados invisíveis.

Do lado esquerdo da praia, temos, espalhadas como se fosse um tapete ao sol, as pedras de tamanho médio e grande.


São as que têm mais sucesso e mais adeptos com posição estrategicamente estudada, ao fim de muito tempo de 'apanha'. Profissionais, é o que é.


Do lado direito, já na passagem para outra praia minúscula, a que só se tem acesso durante a maré vazia, estão as pedrinhas-smarties, quase todas finas e achatadas.


No centro do areal, mesmo no sítio exacto onde a última onda chegou com a maré-cheia, está o meu carreirinho preferido, bordado com limos e algas.

A Praia da D. Ana, na maré baixa, é uma das poucas praias onde eu ainda consigo aumentar a única colecção que faço desde que me lembro de ser gente: distinguir e escolher com a perícia de um cirurgião, no meio de muitos limos e pedras, búzios muito pequeninos e as freirinhas, as minhas preferidas de sempre.

Tudo isto é tão pequeno, que só mesmo quem gosta muito, como eu, repara que existem por ali. De joelhos, com a ponta dos dedos transformada em pinça clínica e usando o velho truque de fazer sempre sombra na areia, apanham-se um a um, com paciência infinita.

Mas tempo, é o que eu mais tenho nas férias. Esqueço-me das horas que passam à minha volta, deixo de ouvir o riso e os gritos dos outros, não sinto o calor nas costas, nem a areia que me pica os joelhos e deixa marcas.



O meu objectivo é sempre o de encontrar uma freirinha. Este ano só encontrei duas. Cada vez são mais raras.

E à medida que vou enchendo, muito lentamente, o pequeno frasco que trago comigo, lembro-me dos tempos em que este ritual dos búzios pequeninos, era cumprido em família. Todos os Verões. E ganhava quem apanhasse mais freirinhas.

Ainda guardo todas em frascos antigos de vidro grosso, com tampa larga e pesada, herdados pela minha mãe. Estas duas também vão para lá.

Uma hora depois, quando me fui embora, a praia já começava a encher.

Lagos, 22 de Julho 08